A Primavera

Na viagem a trabalho até Florença percebi que na cidade estava fixado o espólio de Botticelli, um dos meus pintores favoritos. Na última tarde, passando das 17 horas e num volte-face do nosso dia, percebemos que conseguiríamos ir até à Galeria Uffizi, a tempo de ainda entrar. Corredores e salas pejados de arte da boa foram vistos num frenesim para chegar ao destino tão ansiado. Nunca pensei que algum dia visse in loco as obras do italiano e percepcionar que aquilo me estava a acontecer, sem ter sido planeado, foi uma surpresa que concedi a mim mesma. A surrealidade do momento deixou-me desarmada, com os olhos marejados por contemplar algo tão grandioso, mas com a sensação pouco humilde de que deveria estar sozinha naquele espaço, por tempo indefinido.


Em 1482 Sandro Botticelli assinava a obra encomendada pela família Medici, que viria a ser uma das favoritas, gerações após gerações, séculos após séculos. A Primavera é magnificente, com 2,03m por 3,14m, pintada a têmpera sob madeira, conta-nos histórias mitológicas cujos significados são ainda divergentes. Vale a pena ler algumas opiniões e formarmos a nossa. Cada pincelada assemelha-se a um toque mágico e apercebemo-nos da mestria do artista nas camadas que compõe a transparência dos panejamentos, em contraste com os bordados dos mesmos. É verdadeiramente intenso observar aquelas flores, o chão, os cabelos... pois tudo, embora não realista, enfeitiça-nos e faz-nos querer ter vivido naquela época renascentista. 

Feliz Primavera!

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