Conto de Fadas


   Backstage de Dior via Vogue

É tão (mesmo tão) fácil percebermos a inclinação de várias Casas para a temática fairytale. De momento não só a desculpa identidade-de-marca é suficiente como também a pessimista realidade em que vivemos social e politicamente. Por cá são só sorrisos e abraços do mais popular Presidente de sempre, um sol charmoso que vem de 2016 para Janeiro, nos anima e justifica saídas de casa em dias de frio extremo para labutarmos. Porque nisto dos contos de fadas alguns têm de ser anões, ratinhos e passarinhos atarefados. Mas nos Estados Unidos da América a conversa é outra e já muito falada. França está num parapeito pouco seguro e lá em baixo o nacionalismo exacerbado de Le Pen... E de Paris vêm as imagens mais etéreas, monárquicas, oníricas e decadentes, tanto em couture como em menswear.

Dior, Giambattista Valli e Y/Project

Dior ganhou a ronda, até agora, de desfiles encantados, com uma apresentação majestosa ao género um filme-de-um-sonho-de-um-dos-irmãos-Grimm. Tivemos direito a princesas, guerreiras, índias, coelhos da Alice, fadas, Marie Antoinettes, dançarinas, super heroínas vitorianas... A after party foi um Baile de Máscaras com presença de cartomante, unicórnios miúdos cool da Moda, Cinema, Música e Redes Sociais, lado a lado com nomes ancestrais como Bianca Jagger, Catherine Baba ou Suzy Menks. Após uma temporada de girl power, Maria Grazia Chiuri diz-nos que podemos ser guerrilla e pompadour, ruas e castelos. No fim do desfile, depois de manequins envergando toucados de plumas e flores, corpetes e caudas, sublinha o statement, agradecendo vestida em ganga. Foi este o presente que Christian Dior deu à Mulher, com a silhueta New Look: possibilidade de assumir a sua vaidade, de encaixar numa feminilidade que tantas vezes sofre preconceito, por serem tempos difíceis, que requerem atitude e equipamento utilitário e onde, aparentemente, a sociedade não nos deixa adormecer para sonharmos.  


Maison Margiela, Dior e Anne Demeulemeester

Maison Margiela, pelo selo John Galliano, apresentou-nos guerreiras e feiticeiras tecnológicas, com truques de magia têxtil, deixando todos entorpecidos nos detalhes de cada coordenado. Vemos romantismo, vemos a melancolia, o  excesso e as ruínas. Tudo, de facto, com uma assinatura muito Galliano. Mais certinhas foram as musas Giambattista Valli e Elie Saab, já habiuadas a serem coroadas a cada estação. Chanel fez do desfile um género de baile de debutantes, onde Lily Rose fechou, braço dado com Karl, em género de fada madrinha (ou direi melhor Deus Todo Poderoso?). A filha de Johny Depp e Vanessa Paradis, um dos ex-casais mais mediáticos e idolatrados dos anos 90 e 00 foi o lacre no dia da maison parisiense.Envergou um maximal vestido em rosa que fazia dela, não só a poderosa princesa do sistema pop americano & francês, como uma frágil ballerina afundada em camadas.


 Backstage de Dior via Vogue

Se as peças de alta-costura não saem do bosque encantado, a não ser pelas Cinderellas das passadeiras vermelhas, as propostas masculinas de pronto-a-vestir começam lentamente a construir pontes entre designers e consumidores. Os homens estão mais atentos e aos poucos a dar a mão a escolhas mais "arriscadas" como chapéus, coletes, veludos, volumes, estilo gótico... A dupla Y/Project apresentou muitos destes elementos, desenhando príncipes urbanos, que se vestem em armaduras de veludo e cachecóis aristocráticos, a lembrar os clubísticos. Construíram um homem misterioso, cujo estatuto social é ambíguo mas a ambição é, definitivamente, opulenta. Ann Demeulemeester, pelo traço de Sébastien Meunier, criou um poema com protagonistas que viajaram do Romantismo até nós. Desfilaram, um a um, aristocratas e mosqueteiros boémios a desafiar convenções de estilo do século XXI e a exercitar as várias formas de sensualidade que um homem pode adoptar, mesmo quando se cruza a fronteira feminino-masculino.

Backstage de Y/Project fotografado por Clément Louis para Crash Magazine

Todo este misticismo não é coincidência, mas sim o reflexo da necessidade que temos em acreditar em algo, ter um escape e uma resposta ao dia-a-dia. A tendência mitológica tem sido crescente e tanto é desenvolvida pelos criativos de Moda, como consumida pelas massas em livros ou serviços relacionados com Tarot, Numerologia, Zodíaco, Reiki, História, Storytelling...
  

- Sobre a tendência completamente oposta a esta falaremos mais à frente.
- Fotografias dos desfiles via Vogue

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