80s Called...

 They want their outfit back. Podemos começar assim com esta piada muito cultura americana e enquadrar o tom jocoso numa tendência bem forte. Os anos oitenta realmente voltaram e estão a forçar a porta dos nossos armários. Por alguma razão os quisemos esquecer e talvez tenha sido o excesso, o exagero com que nos marcou, visual e socialmente.
  Porter, Março 2017



 The Edit, Março 2017

Podemos ir em diferentes direcções sem nunca abandonar factores desta década. Se olharmos para os acontecimentos mais infelizes a nível político, vemos uma Alemanha dividida pelo muro de Berlim. Este marco físico era a prova da Guerra Fria, separando socialistas (União Soviética) de capitalistas (Estados Unidos da América). O que tem isto a ver com Moda? Tudo. Como sempre o vestuário é a testemunha mais participativa em qualquer narrativa. 

Harper's Bazaar, Maio 2017

Do lado socialista  a estética era "anti-fashion", de reutilização e costumização, mais do que atenção e subjugação às tendências. O consumo era lento em tudo, obedecendo às políticas soviéticas. A Moda estava, basicamente, regulada pelo governo e a entrada de bens exteriores às fronteiras era escassa ou nula. A criatividade fazia parte do individualismo de cada um e embora a estética fosse quase estática, existia uma grande preocupação com a forma de expressão através da Moda. O contraponto fazia-se com a outra fracção, onde o capitalismo imperava num consumismo alastrado por ícones como Madonna, Prince, Grace Jones, Boy George, Bowie, Diana Ross, entre outros artistas.

Grazia UK, Fevereiro 2017

Hoje, estas influências chegam-nos filtradas, apenas com laivos daquilo que carregavam na altura. Da herança soviética, principalmente do pós-guerra, ali no último ano da década, recebemos uma mistura de sportwear com espontaneidade, liberdade criativa e experimentação. Um pouco de, tal como dito em cima, anti-fashion e individualismo num contexto jovem. Quem ditou estas regras? Gosha Rubchinskiy, Virgil Abloh ou Demna Gvasalia, que com um estilo despojado e irónico, conquistaram tudo e todos.

 Grazia UK, Fevereiro 2017

Pensando no espectro americano, as noitadas voltam a ser gozadas em intensas noites de disco à anos 80, no entanto sem a máscara negra do consumo de drogas, prostituição e pornografia. Isso são tempos idos que quase nunca combinam com a tendência saudável e holística de 2017. As reinterpretações foram feitas por J.W. Anderson, Marc Jacobs ou Anthony Vaccarello. As fundações visuais provêm, para além das ruas americanas (via-se também a adopção do vestuário desportivo no dia-a-dia) e clubes nocturnos, de séries como Dinastia ou Miami Vice.

 Porter, Setembro 2017

A onda soviética e desportiva tem alcançado as massas, mas tal como o normcore vai perdendo adeptos. Como em todas as modinhas ficam os verdadeiros aficionados de um estilo, os restantes são seguidores que depressa encontram outro caminho ou experimentadores que adoptam a multiplicidade de estilos por diversão.

 Vogue Australia, Março 2017

A cena disco é de facto recorrente e por isso mais fácil de vergar cépticos a um blazer de ombros marcados, vestidos em lurex, lycra, maquilhagem tecnicolor, franjas e cabelos volumosos. No final do dia as mensagens politicas ficam aquém de outrora pois somos privilegiados pela liberdade alcançada pelos antepassados. Vivemos de forma frenética e tantas vezes despreocupada com estas contextualizações sociais que acabamos por torcer o nariz ou aplaudir aos cabides das lojas sem ponderarmos o porquê de estarmos a ver tudo outra vez. Será que precisamos de nos divertir mais? Ou de encararmos a vida de forma mais leve, sem códigos antiquíssimos que nos definiam enquanto classes e grupos?

 Grazia UK, Fevereiro 2017

Por outro lado, será que devido à instabilidade política vigente, após um período de crise económica, não nos queremos privar de nada? O consumo realmente aumentou e com ele as roupas são a personificação do nosso eu mais divertido, sofisticado e glamuroso. Não há tempo a perder porque a qualquer momento ficaremos sem estes detalhes supérfulos e ébrios.

 Vogue Japão, Abril 2017
 
 Vogue Australia, Março 2017

 Vogue Paris, Junho 2017


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